Dos seus saltos


Minha paraquedista
Para que disto?
Porque insisto
Em saltar em você?

Minha Paraquedista
Para que distancia?
Do alto dos seus saltos
Nem me vê

Solta em minha vida
Solta minha vida
Solta vida
Salta

Minha Paraquedista
Para que diz isso...
Me apara querida
Como se tua fosse
a minha vida
E cuida
Para Queda
não seja muita.

Salto duplo é assim
eu quedo em você
você queda em mim







#Foto: Com os Andes aos meus pés. Marton Olympio - 2010
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O Último Dia


As pessoas passavam por ele chorando, gritando, dizendo que se arrependiam.
Ele conseguiu olhar de soslaio o digital na rua.
15:57. 3 minutos restavam.
Luz, gás, seguro do carro, a escola dos meninos, condomínio, tudo ali, cuidadosamente embrulhado no envelope de papel pardo.
Uma senhora caiu aos seus pés.
- Para onde vamos? Para onde vamos? – Ela gritava apavorada, olhos saltados, lagrimas borrando a maquiagem.
É. O fim do mundo não é mole não.
- Eu vou ao banco! - E desviou cuidadosamente da mulher que ficou ali caída. Contrita, orando, soluçando e chorando.
Ele virou a esquina e entrou na larga avenida. Viu de longe que os gafanhotos vinham aos montes, como chuva, castigo, punição!
Abriu o guarda-chuva. Os insetos caiam sobre ele como granizo fazendo um grande barulho e deixando as ruas de pedras portuguesas escorregadias e tingidas de verde.
Viu os raios que cortavam os céus e atingiam um sujeito aqui, uma madame ali. Tudo incinerado. Só conseguiu pensar numa coisa:
- O plano de saúde!
Parou de súbito e um raio caiu na sua frente. Ele olhou com cara de muxoxo para os céus.
Murmurou enquanto remexia o envelope.
- Era só o que me faltava!
A guia do plano tava ali. Que sorte. Se não pagar no banco, ir a loja do plano é um verdadeiro inferno...
Mal acabou seu pensamento e sob seus pés abriu uma fenda enorme, deu tempo apenas de pular de lado. Pessoas caiam lá dentro e as labaredas lambiam tudo. Ele se protegeu com o guarda-chuva que virou cinzas em segundos. Cheiro de churrasco no ar. Chegou a entrada do banco, empurrou e porta giratória e...
- Constatamos algum objeto de metal. Por favor, posicione-se atrás da faixa amarela. – Disse a voz eletrônica.
O segurança se aproximou com aquele ar despreocupado que lhe é peculiar.
- Celular? Guarda-chuva? Chaves? Moedas?
Esvaziou os bolsos sobre o olhar de suspeição do vigia. Uma moeda caiu ao chão e ele se curvou para pegá-la. Um pequeno meteorito passou por cima dele atingindo a frente do banco. A fachada, a logomarca, a porta giratória não existiam mais. Do segurança sobrou apenas o par de botas no mesmo lugar. Onde já estava há anos. Ele deu de ombros, juntou suas coisas e subiu as escadas apressado.
Não tinha filas. Nem na fila dos idosos. “Um dia de sorte” pensou com um sorriso nos lábios.
- Próximo!

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O T da Questão















Tenso
Teso
Tensiona
Te toma a Intenção .
Tesão
Teso deixa.
Em tensão.
Intenção.
Intensa.
Não tema o tema.
Tensiona latente.
Tenta.
Tentação.
Tenta a ação.
Tensa.
Intensidade.
Intensa saciedade.
O tesão.
A tensão.
Atenção.

Distensão...
Diz tesão...
Diz... Que me ama.



#
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O Que Não é Mais Gente


Sentiu o soco como se fosse uma benção.
Naquele exato momento começava a desexistir.
Desexistir. Desistindo foi...
Salpicou a calçada com um vermelho vivo e orgânico. A criançada riu divertida.
Fez com a lingua a conferencia dos dentes. Faltavam alguns. Tinha gasto uma grana no ortodontista para aquilo. Puta falta de considera...
A pancada pegou em cheio no raciocinio. Onde no corpo nem sabia mais. Foi tanto chute, soco, tapa, cuspe que nem se dava conta mais. Tanto fazia.
Nem dor sentia.
Estava ali a quantos dias? Não. Tinha uns dois minutos... Ou duas horas?
Olhou para o relógio e sentiu que seus olhos não focavam mais. Tudo embaçado de vermelho. Sabia que num deles nem mais olho havia. Só uma órbita negra e desforme.
Outro chute, mais outro, tudo começou a escurecer... Não, não. Cair no limbo agora não! Estava em meio a um raciocínio interessante. Adorava quando desenvolvia teses sobre ele mesmo. Ah, sim, seus olhos.
Verdes, grandes, lindos. Mudavam de cor por vezes e ganhavam um azul turqueza enebriante no inverno. Comeu muita gente por conta disso.
Agora eram um buraco e meio vazios de luz. Ali girava um eco de imagens.
Passou seus dedos tortos sobre a cara macilenta e não podia mais dizer o que era olho, nariz, boca... Não consguia nem soprar. Fez um bico e tentou um assobio.
Ouviu risos.
De repente ficou muito do puto dentro das calças. Que porra é essa? Do que debochavam? Deus socos e chutes na direção do escarnio. Ou pensou em dar e só chorou. Vontade não faltou. As lágrimas raivosas ardiam sobre as feridas.
Mais risos.
E chutes, socos, tapas e nada... Não sentia mais nada.
A ultima dor que identificara veio de suas partes. Sentiu que ali gastaram um tempo. Pisando, esmagando, dilacerando suas coisas... Que já haviam lhe trazido tanta felicidade e orgulho. Um homem sem sexo não é mais.
Sabia que entre os paus que lhe acertavam, tinha também um cano. E quando cruzava o ar para acertá-lo soltava um uivado. Ou era um gemido dele mesmo. Uivado, gemido, uivado, gemido. Era os dois. Ou três, quatro, muitos... Uma puta covardia.
Mas agora nem dor sentia. Doia mais ele não saber mais porque estava ali.
Uma sede enorme ressecou sua garganta dolorida. Sentiu o laço como uma gravata. O ar? Ar.
Provou o gosto daquilo que escorria abundante pela sua cara.
Sentiu-se morrer na ponta da lingua.
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Do Ponto de Vista Da Inveja


Laboratório. Noite. Pipetas, buretas, tubos de ensaio, almofarizes e azulejos. Muitos.

Um branco enorme e uma assepsia de uma clareza de semi-nova.

Ele, o rato de laboratório, passava o bigode por dentro de sua gaiola, em todos os cantos, com aquela inquietação mesquinha dos roedores.

Para cá e para lá.

Os olhos, apenas órbitas pretas, pareciam flutuar, soltos em meio aos pelos de uma brancura inocente. Como os que têm as almas boas e puras. Ou os cínicos.

O outro, o rato de esgoto, apareceu de uma fenda, um buraco, um lapso fedorento daquela alvura toda. Um deslize em toda ordem lógica do lugar.

Tudo tem sua brecha. Todo mundo.

Surgiu do seu jeito encardido, seboso, viscoso, fedorento. De uma cor de terra suja, carregando suas doenças e rejeição. De iguais os ancestrais e a mesma mesquinhez de movimentos.

Roedores parecem àquelas pessoas que comem solitárias em bancos de praças.

Ou entalados nos banquinhos dos fast-foods.

Engoles em pequenas dentadas. Escondendo nas mãos seus alimentos, num misto de vergonha e egoísmo. Depois relegam as suas migalhas aos pombos amaldiçoando o mundo em que animais estúpidos podem voar.

Dois ratos, dois mundos. Que se encaram.

O rato laboratório queria aquela liberdade.

O rato de esgoto queria aquela comida fácil.

O primeiro queria ser marrom, cheirar o medo nas pessoas se deliciar com o horror.
E atacar depois.

O segundo queria ser branquinho, fofo, cheiroso, para poder ser aceito, carinhado.
E atacar depois.

Um e seus vírus de laboratório. Inoculado, testado, experimentado. Mas um na cadeia de produção, cobaia, número apenas um reflexo do que somos.

Outro orgulhoso de todas as pestes ancestrais. Largado, aviltado, desprezado, perseguido. Vivendo em meio ao lixo, restos, excrementos. Ninhada de semelhanças com aqueles que dormem em camas de asilos.

E os olhos brilhavam negros enquanto desejavam. A boca enchendo de água só de pensar na vida do outro. A baba pinga viscosa.

Os olhares se cruzavam, debatiam, confrontavam. Podiam ficar ali secando um ao outro para sempre, por mil anos.

Como a vida, o primeiro precisava ser o segundo. O segundo necessitava ser o primeiro.

Uma liberdade de esgoto? Ou um cárcere farto?

A dúvida é vizinha da inveja na rua das escolhas.

#

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Traição


Foi a primeira a saber de tudo.
Por um segundo ficou sem fôlego.
Um terço nas mãos e uma oração dita aos céus.
No quarto coroas de flores, velas e as carpideiras.
O quinto dos infernos era onde ele devia estar.
O sexto sentido já tinha lhe avisado disso...
Do sétimo céu a queda nunca cessa.
Ou oito ou oitenta... A vida é assim. A morte mais simples.
A novena mastigada entre os dentes miúdos.
Era a última da mesa.


Os último serão sempre os primeiros.

A saber de tudo.

#

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Cadê Deni”zs”e?

Ele se aproximou, ela levantou os olhos. Bonito ele. Do tipo inacessível.

- Denize?

- Não.

- Seu nome não é Denize?

- Não. – A pausa do charme e ela completa. - Meu nome é Denise com “s”.

Ele fez para ela um olhar de quem estranha. Estranhamente lindo era ele.
- E como pode saber se o Denise que falei é com Z ou com S?

Ela sorriu inteligente.

- Pelo jeito que falou...

- Que jeito?

- O jeito oras... As Denises com “S” são mais soltas, safas, sinceras... E não foi como falou.

- Solteira? - Ousado ele.
- Talvez. - Vermelha ela.

- E as com “z”?

Ela olhos fundo dentro dos olhos pretos dele. Sentiu que fosse cair ali dentro mas, apesar do medo da altura, respondeu com firmeza.

- Zombeteiras...

- “Zacanas”?- Ele murmurou. Ela fingiu não entender.

Ela voltou a arrumar livros. Estavam numa biblioteca.

Tinha anos que ela procurava o amor da sua vida. Mas como não achara, resolveu estudar biblioteconomia que acabou por ocupar seu coração.

Mas era uma mulher, portanto curiosa em sua essência.

- E porque procura a... Denize?

Ele começou a ajudá-la com os livros. Quase por extinto.

- A cartomante disse que é o amor da minha vida.

- Mas ela disse com “z”?

- Não... Jogou as cartas e murmurou... Deni... Ze ou Se.

Ela conhecia a cartomante. Havia passado por lá uma vez. Saiu com a certeza que um homem surgiria, o grande amor de sua vida. César.

- Cesár? – Ela murmurou... Os olhos deles se iluminaram num sorriso.

Os dois se beijaram e a sua volta tudo se tornou um musical.

Um chafariz surgiu no meio da sala, fichas coloridas saiam das gavetas e voavam, uma linda canção de amor, e muitos, mas muitos bailarinos iam e vinham entre as estantes. Os dois flutuavam em passos jamais vistos como Ginger e Fred, Fred e Ginger. Uma coisa linda de se ver.

Ao fim do número Denise encarou seu amor e perguntou.

- Cézar com “z” ou César com “s”?

Anos mais tarde eles aprenderam.
O amor se escreve com qualquer letra que se
queira.






#Publicado originariamente no Blog www.zarayland.blogspot.com. Valeu Cezar pela inspiração :)

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Vida.



Ele parou atrás dela. Ficou por um minuto olhando para sua nuca, o desenho do ombro, os cabelos curtinhos.
Ela se virou e o encarou. Ele desviou os olhos. Ela se voltou para frente.
A fila cresceu e se perdeu virando a esquina. Ele tomou coragem:
- Não anda, né?
- O que?
- A fila...
- É.
Pronto. Ele já tinha dado o primeiro passo. Agora só se ela...
- Mas deve andar. Tô aqui faz tempo...
Ele sorriu confiante. Agora era a vez dele.
- A vida é uma fila...
- Como?
- Minha avó dizia isso.
- Humm...
- Nunca entendi muito isso...
- Ah, deve ser no sentido da espera, das buscas, oportunidades...
Ele ficou confuso. Ela orgulhosa com a própria inteligência.
O silêncio não durou quinze minutos.
- Você segura meu lugar aqui um instante? Já volto.
Ela fez que sim com a cabeça e ele dobrou a esquina acompanhando a fila. Voltou carregando laranjas.
- Espero que goste... Trouxe pra gente.
Ela sorriu agradecida. Logo só havia bagaços dentro do saco plástico.
- Agora é sua vez. Já volto...
E ela sumiu acompanhando a fila. Logo voltou com duas garrafinha de água.
- Uma é pra você... – Ele sorriu agradecido. Ela bebeu em goles miúdos.
- Será que pega mal se sentarmos?
- Onde?
- Aqui mesmo... No chão...
Ele titubeou e ela se jogou ao chão como um desagravo. Puxou ele pelo braço que sentou meio sem jeito. Ficaram ali olhando a fila. Trocaram idéias, charmes e por fim beijos. Doces como são os primeiros. Intensos como se fossem os últimos.
A noite chegou e os dois dormiram ali juntinhos. Aos poucos não era mais uma fila, era um mundo deles, rodando numa órbita particular.
Na manhã seguinte a fome chegou e ele saiu e voltou com frutas. Ele teve sede e ela voltou com mais água. Nem falavam com as outras pessoas na fila e apenas desobedeciam a ordem, às vezes mudando de lugar, às vezes ficando lado a lado.
Dias e noites se passaram e a fila se tornou um lar, um abrigo, um refúgio.
- Estou grávida.
Ele sorriu. Era com certeza o segundo melhor dia da vida dele.
Depois tiveram mais três filhos. Logo cresceram e algumas pessoas reclamaram na fila. Não era normal de uma hora para outra, aqueles furas filas.
E as crianças viraram adultos e se foram. Talvez para outras filas.
E voltou a ficar apenas os dois e a fila. Até que ela...
- Vou comprar água...
- Tem água aqui...
- Você sempre faz isso.
- O que?
- Nunca quer me dar um espaço só meu.
- Quer passar a frente?
- Não, só quero espaço.
Ficaram em silêncio quase dez dias.
Apenas comentários sobre o tempo, sobre uma carta de um dos filhos e sobre a fila.
Um dia ele dormiu. Ao acordar viu, onde ela deveria estar, um bilhete, onde se lia, naquela linda letra dela: “Sua avó tinha razão. Só que a fila anda.”


#
(Uma reprise para movimentar o Blog :)
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